Jornal ARJ - Perguntas e Respostas

Shihan e Hanshi

Um dos responsáveis pelo Koryu Books, um site muito interessante na internet sobre artes marciais tradicionais japonesas, Meik Skoss, escreve um artigo com este título, "Shihan e Hanshi", onde ele comenta sobre algumas peculiaridades da língua japonesa no que diz respeitos aos termos usados no budo em geral.

Ele começa perguntando se alguém sabe porque o Aikikai denomina de shihan os seus professores de nível mais elevado enquanto a ZNKR (Zen Nihon Kendo Renmei), a Federação de Kendo, usa a palavra hanshi? Ambas as palavras significam professor mas os caracteres não são os mesmos, só que invertidos. O han é o mesmo, e quer dizer exemplo, modelo ou padrão. O shi em shihan quer dizer professor ou mestre. O shi em hanshi quer dizer cavalheiro, samurai ou guerreiro, ou acadêmico.

Aliás, diz ele, enquanto no aikido as pessoas referem-se a Ueshiba Morihei como O-Sensei, no judo eles usam a forma Kano Shihan, usando o shihan como título somente no caso do Kano Jigoro. Continuando, Skoss chama a atenção para o fato de que O-Sensei é um termo que designa uma grande dose de respeito e que não é exclusive de Ueshiba Morihei. Assim, o correto seria dizer-se "Ueshiba O-Sensei" para diferenciá-lo, por exemplo, de "Kato O-Sensei" (21o mestre do Tatsumi-ryu) ou "Sakagami O-Sensei" (o falecido mestre do Itosu-ryu). Seria uma maneira também de diferenciar Ueshiba pai do filho e do neto que são também Ueshiba Sensei.

Em seguida, o artigo investiga as diferenças em uso desses dois termos. Shihan significa, de modo geral, um professor exemplar ou um professor mestre. Sensei significa professor também, mas pode ser empregado também para médicos, dentista, adogado e até mesmo políticos. Professores universitários de tempo integral são chamados kyoju, quando na terceira pessoa e jokyoju para professores associados. Um professor integral do segundo grau é kyoyu. Um instrutor universitário ou do segundo grau é chamado koshi, enquanto no budo é usado shidoin para instrutor e fuku shidoin para instrutor assistente.

Skoss explica em seguida que "hanshi e os títulos inferiores, kyoshi e renshi, são conhecidos como shogo, títulos ou graus de ensino. No meu modo de ver eles são mais um reconhecimento do tempo ou da contribuição pela arte do que uma indicação de habilidade técnica. Para isto é que temos o sistema dan-i de avaliação."

Skoss termina o artigo com a observação de que os graus atuais em kendo, iaido, naginata, etc, são em sua maioria um fenômeno pós-segunda guerra, introduzido para se manter a paridade com o judo e uma consequência da proibição das artes marciais pelas autoridades americanas de ocupação.

Um dos aspectos interessantes deste artigo é que ele aborda um assunto já discutido várias vezes entre nós do ARJ. A cultura japonesa é muito refinada e intrincada no que diz respeito à etiqueta e hierarquia. A língua japonesa, como não podia deixar de ser, reflete essa complexidade e o estudante estrangeiro de budo deve se cercar de cuidados ao usar designações em japonês (sensei, watachi, etc.) como uma tradução livre de sua língua natal, sem atentar para o fato de que, quase sempre, existem sutilezas, nuanças, espreitando o budoísta incauto. Em caso de dúvida, é melhor e mais autêntico usar o termo nacional.